A escola e o sistema educacional, nos anos sessenta, no interior do Rio
Grande do Sul eram precários. Havia, de um lado, os valores familiares, esses
sim mais ou menos consistentes, a depender de cada família e ele os teve; de
outro lado a escola, que apresentava um sistema em crise sempre falimentar,
estruturado na rigidez das décadas anteriores e suavizado, quando se tinha
sorte, nas capacidades de um que outro mestre que aportasse no colégio,
trazendo a sua bagagem particularíssima.
Santa Vitória do Palmar, nos 50 e nos 60, como na maior parte do
grande interior do Brasil, migrava ainda da era do transporte animal para a
tração mecânica – a era do automóvel.
O grande herói dessas duas décadas foi o caminhão, segundo o eminente
economista e professor Ignácio Rangel. O caminhão foi o propulsor da economia
brasileira, posto que não tivesse havido outra ou melhor forma de desbravar e
ocupar o vastíssimo interior do Brasil a partir do litoral já povoado, devido
as características próprias deste país gigante. O herói foi o Caminhão!
A magia das carroças, das charretes, dos tílburis e das rapidíssimas e
românticas “aranhas”, saiam de cena para dar lugar aos automóveis de todos os
tipos e formatos, importados dos EUA e Europa, dos modelos A (os calhambeques)
aos rabos-de-peixe. A euforia do pós-guerra, a vitória aliada, os heróis norte
americanos que invadiam a todas as casas brasileiras, pelo rádio, pela TV e
cinema, mudaram o país, a cultura e os valores. O cigarro, o whisky, a audácia do herói militar, os
automóveis, os aviões, os Jeep e os maravilhosos caminhões agora eram os
protagonistas.
Na música e nas artes o país tentava reagir e nos presenteou com
movimentos que materializaram Os Anos
Dourados. Foi o canto do cisne. Os estrangeiros vieram com tudo e dominaram
o Brasil completamente, sem armas, pelo poderio econômico e a sagacidade
administrativa. Bem, estávamos acostumados, desde os portugueses que nos
“descobriram”. E os holandeses, e os franceses e os ingleses, e etc.
Pois o caminhão e tudo o que ele representa, em termos de infraestrutura
necessária, na atualidade, de herói passa a vilão, determinando em grande parte
o caos nacional, junto, claro, com outros conhecidos facínoras, como as drogas
e os narcotraficantes, os burocratas, a corrupção e a impunidade e vamos indo
“Aos Trancos e Barrancos”, título, aliás, de um dos primores do sábio,
pensador, educador e antropólogo Darci Ribeiro, autor também de O Povo
Brasileiro. É preciso citar Rangel e Darci. Este último a ser ainda devidamente
honrado, por ser o primeiro pensador que nos obriga a ver-nos a partir de nós
mesmos, a partir da sua obra – não mais sob a ótica do estrangeiro dominador e
colonizador.
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