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PASTA 8 - O MESTRE


Os colégios dele foram os possíveis. O Colégio São Carlos, das freiras, onde se sentia em segurança e a partir do primeiro ano primário, possivelmente por questões de economia familiar, a famigerada “escola pública”; o convívio com a plebe ignara. No caso, o amedrontador e distante Grupo Escolar Manoel Vicente do Amaral.

O medo de enfrentar-se com os valentões da escola pública não era pouco. As intermináveis e diárias brigas de rua em sua zona já eram bem difíceis; deixava-o ressabiado e meio acovardado. Enfim, tinha que enfrentar, era o jeito, nem que fosse desviando uma que outra rua, estrategicamente.

Os anos da escola primária passaram-se muito rapidamente. Mas não foram mais importantes do que as férias nas fazendas dos primos e amigos e muito menos do que as fantásticas vacaciones na Barra do Chuí.

E então chegara o tempo de vestir a farda, o uniforme do Ginásio Estadual de Santa Vitória do Palmar. Era uma farda efetivamente militar, com galões no ombro que indicavam, assim como os galões de cabo e sargento, o ano que se estava cursando – do primeiro ginasial (um galão – um risco em V deitado apontando para fora) até o quarto (quatro riscos, em azul marinho e branco).

O primeiro ano do Ginásio equivalia a sexta série, pois eram cinco anos de primário e depois mais quatro anos de ginásio, para seguir então com o curso científico, ou clássico, ou uma escola técnica. A partir daí, vinham então os cursos superiores – as faculdades.

Para ingressar no ginásio - 6º série - era preciso fazer uma espécie de vestibular – o exame de admissão. Ele passou, a duras penas, de baixo de muita briga e muita teima da mãe e da “cinta” do pai, além de uma infinidade de professores particulares e castigos. E por quê? Simplesmente porque para ele nada podia ser tão ou mais importante do que jogar futebol – que jogava mal, lutar com espadas – que jogava bem, andar a cavalo e depois de bicicleta, lubrificar as armas e caçar.

Boa parte dos professores do Ginásio eram bons, sem dúvida, mas aí chegou a sua sorte.  Aportava no Ginásio um professor diferente, com fala diferente, abordagem nova, um jeito de tratar e se relacionar com os alunos fora do convencional. Retornava para Santa Vitória, com o propósito de lecionar geografia - o professor Homero. Fechava-se um circuito. Homero era a peça que faltava para despertá-lo e certamente a outros.

De repente um clique aconteceu e que o fez enxergar, entre outras coisas, a enorme biblioteca que seu próprio pai tinha na sala de visitas.

Começou por devorá-la. Tinha 13 anos. Estava atrasado!

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